Podíamos ter escolhido ficar em casa, no conforto da lareira e da melancolia, no último fim de semana do mês passado... mas com a vontade de começar um novo ano, um novo ciclo, com a força de dezenas de vozes a cantar em uníssono, motivados pela amizade que nos une, e estimulados pelo calor que nos havia de acolher em cada casa da aldeia... lá fomos, uns trinta e muitos, entre miúdos e graúdos. Em grupo, com a fanfarra (acordeão) do Zé Maria da Sobreira Formosa sempre a largar aquelas melodias que a todos enchem a alma, pandeiretas, reco-reco, ferrinhos... e claro, o melhor instrumento de todos, a força de "mil vozes" repletas de energia e vontade de animar as gentes da nossa terra. E lá fomos nós, aldeia a baixo, de porta em porta, a cantar as janeiras, a levar o carinho e a amizade a cada habitante da nossa linda aldeia. E em cada casa, em cada esquina, amizade, carinho... e onde não faltou um copito de jeropiga, medronheira da boa, um bom vinho novo..., um petisco..., uma chouriça como manda a tradição!
Manda também a nossa tradição, que passemos pela Santa Casa da Misericórdia de Proença-a-Nova. É lá que se encontram os guardiões da saudade, da sabedoria, da tradição, da longevidade, da história da nossa terra... e uma terra sem história..., sem recordações..., é como um homem sem alma! E sabe tão bem, faz tão bem, agradecer aqueles que nos trouxeram até aqui, de forma singela, todo o legado que nos projetam para o futuro..... E o tempo..., o tempo é efêmero..., é tão pouco para saborear estes momentos de profunda alegria, com aqueles que apenas esperam pela hora de partir.... E na Santa Casa da Misericórdia, somos sempre acolhidos com tanta alegria, admiração, carinho e empatia, pelos idosos da nossa terra, pelos funcionários, e este ano com a honra da presença do Sr. Provedor, Dr. José Bairradas. Depois de uma animada cantoria de janeiras de quase uma hora, junto dos idosos, e das simpáticas palavras do Sr. Provedor, lá nos esperava a chouriça, o pastelinho, o belo presunto da terra e um pão de trigo, tudo bem ensopado num bom vinho tinto..., não fossem as nossas janeiras assim..., e não era a mesma coisa....
Desenganem-se se pensavam que a noite terminava por aqui. Ainda havíamos de visitar os nossos amigos da Associação da Isna de S. Carlos, onde mais uns quantos cantadores de janeiros nos aguardavam com um belo repasto, recheado de amizade. Logo ali tratámos de firmar um evento conjunto entre as três associações, da Isna e das Maljoga, uma sardinhada para o mês de junho, a acontecer no Parque de Campismo da Aldeia Ruiva. E de lá, seguimos em romaria para a Associação Bem Estar de São José na Maljoga da Sertã, onde cantámos mais umas quantas modas desta quadra. E daí fomos até à nossa Maljoga, onde ainda faltava colher umas chouriças, uns abraços, e largar as "mil vozes" ao vento, entoando a amizade que une as gentes da nossa terra. Depois de toda esta partilha, faltava apenas um caldinho de galinha para aconchegar a alegria e apaziguar as cordas vocais..., e a Idalina lá tratou de se aprumar na canjinha.
Como não podia deixar de ser, domingo é dia de queimar as calorias da chouriça, uns copitos a mais... e afins! E lá estavam os nossos amigos da Sobreira Formosa À nossa espera, junto ao Centro de Ciência Viva da Natureza, para mais 10km de convívio e boa caminhada. O São Pedro não estava com cara de muitos amigos e lá nos ameaçou umas vezes com umas pinguitas de água...nada de mais. Mas nada superaria, quando a meio do percurso fomos surpreendidos pelos amigos da Sobreira, em particular o Carlos Alves (Pisco), que nos apresenta um reforço de chouriça de carne, chouriço de sangue, pão de trigo, vinho do bom..., e uma deliciosa ginja... tudo produção caseira! Caminhadas destas e amigos assi..., que seja para toda a vida! E depois de retemperadas as forças, lá fomos em direção ao Centro de Ciência Viva, onde os catraios nos aguardavam para fazerem uma oficina de sabonetes, visitar a exposição e assistir a um filme sobre a sustentabilidade dos ecossistemas. Vale a pena ser desta terra, e sentir o orgulho das coisas bem feitas, como é o caso do Centro de Ciência Viva da Floresta. Parabéns a toda a equipa, em particular às amigas Edite e Sónia!
E terminada a visita, era hora de rumar à Maljoga, onde mais 50 pessoas nos aguardavam para almoçar..., na hora de comer éramos uns setenta e poucos..., se fosse para colher resina...não sei se chegavam à meia dúzia! Entradas, Sopa da Pera, entre outras especialidades, aonde não faltaram as boas sobremesas partilhadas, e ainda 10 minutos de atuação de cantadores de janeiras, especialmente para aqueles que não participaram no dia anterior.
E assim se passou mais um fim de semana entre amigos, na partilha de um bem maior, que é a amizade e o carinho que nos une, e nos liga mais fortemente à nossa Maljoga!
Bem haja a todos pelo carinho e pela amizade! Para o ano há mais Janeiras, mas entretanto, no dia 8 de março é Dia da Mulher, e elas não pagam, cabe aos homens pagar e cozinhar! Inscrevam-se já!
Um grande abraço a todos!