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quarta-feira, 23 de março de 2011

História e Estórias da nossa Maljoga

As Quelhas

Ao percorrer a rua principal, deparamos com os vestígios de 3 quelhas, cuja existência remonta a mais de 200 anos, os mesmos que, supomos ser a do povoamento da aldeia. Estas pequenas aberturas muito estreitas, entre as casas, davam acesso a quintais ou terras circundantes e eram passagem só para pessoas ou animais de pequeno porte.

Talvez por razões, essencialmente económicas ou de estratégia(quem sabe, se para defesa dos lobos que abundavam na serra), as casas foram construídas ligadas umas às outras, com paredes comuns e em forma de comboio.

Eram muito pobres, feitas de barro, pedra e madeira utilizada nos tectos, no chão e como divisão dos compartimentos da casa. Não tinham casa de banho. Apenas um pequeno “vaso” de loiça (antes do aparecimento do plástico), vulgarmente chamado de “penico”, enfeitava a parte de baixo das camas.

Por essa razão muitas vezes na nossa infância víamos, pela manhã, bem cedo, alguem “de calças na mão”, aflito, a correr pela quelha abaixo, para ir ao quintal aliviar-se.

Quando se vivia longe da quelha, ou a casa não tinha acesso às traseiras, o despejo do vaso era feito diretamente da janela da casa para a rua, chão de terra batida e coberta com matos, que forneciam, indubitavelmente, uma boa produção natural de fertilizante para as terras.

Quem não se portasse bem e provocasse o vizinho corria o risco de levar com um “penico” cheio de dejetos e mijo, em cima !

As quelhas também serviram de escape à Autoridade, que, montada em cavalos, invadia o povoado à procura daqueles que fugiam ao pagamento dos impostos. Não seria, com certeza, uma missão muito prazerosa para os que representavam a lei, encontrar os moradores assim tão facilmente, pois estes ausentavam-se de manhã bem cedo para os campos, quase sempre afastados das aldeias, e só voltavam à noite. Por isso teriam que ser “caçados “ nas horas certas. Esta escapatória era óptima porque chegando à quelha os cavalos já não entravam.

Havia sempre alguém a morar numa quelha. Uma tia, por exemplo! Então para mencionar essa tia , falava-se na “tia da quelha”.

As quelhas ainda hoje permanecem, praticamente, inalteradas pelo tempo, cheias de memórias de acontecimentos já longínquos, de gentes que lutaram por uma sobrevivência difícil e cujos espíritos (eu creio) ainda ali fazem caminho. 

Maria de Lurdes Alves
10 de Março de 2011 

quarta-feira, 2 de março de 2011

Carnaval - Recriação da matança do porco e das tradições gastronómicas

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É uma tradição que faz parte da matriz cultural da nossa aldeia, da nossa região, e do país. Estamos atentos à perda de tradições e ao abandono das práticas que nos trouxeram até hoje, e por isso, quisemos recriar aquela que é uma das festas populares mais celebradas por todo o país. Festa sim, porque não tem de ser uma barbárie a festa da matança do porco. É preciso humanizar um acto que faz parte da nossa tradição e que cujo princípio se encerra num ato de índole gastronómico!

Assim, ontem e hoje, 5 e 6 de Março, reunimo-nos, em festa, sob o patrocínio da tradicional matança do porco.

Morto o bicho havia que chamuscá-lo, com carqueja da Vermelheira está de ver, e como mandam as tradições:

Não liguem ao número que identifica o animal, pois é uma esquisitice dos veterinários que não se usava noutros tempos!

... entretanto havia que preparar as tripas para fazer as morcelas:

O alimar das tripas é trabalho de mulheres... enquanto os homens curam as tendinites provocadas pelo espernear do animal, com uns tintos está de ver!
As carnes iam sendo cortadas à maneira tradicional por pessoal entendido na matéria:


O nosso presidente está em todas, pois é homem para todo o trabalho!

... havia que encher as morcelas:


... pois sem elas não há fumeiro:

Não ensalivem, meus amigos, pois se quiserem saber o que é bom só têm é que aparecer... para a próxima matança...
Matança sem filhós não é matança e, por isso, também elas não podiam faltar:

Estão bonitas, não estão!... E que apetitosas!... Acompanhadas com uma medronheira, são de comer e chorar por mais! Pois chorem que destas já não comem!

Entretanto as carnes, assadas no forno, iam sendo trazidas para a cozinha:

Está loirinha, a carninha! Acompanhada com salada de almeirão, estava bem saborosa!
 Havia que abrir a sessão degustativa dos manjares preparados e para tal tomou a palavra o nosso presidente e cozinheiro encartado:

Temos de reconhecer que o nosso presidente, o Rui Lopes, tem jeito para estas coisas... mas isso por si só não chega! É preciso ter gosto e amor à Maljoga e este Maljoguense tem ainda muito para dar à sua terra! Só temos é que apoiá-lo, o resto virá naturalmente...

Também o nosso pároco, padre Ilídio veio abençoar a nossa mesa:

Somos uma comunidade cristã e a presença do nosso pároco faz todo o sentido. E o padre Ilídio, nosso pastor, sabe-o bem! Que Cristo-Rei nosso patrono o abençoe e nele a todos os Maljogueses, presentes na Maljoga e espalhados pelo mundo.
... e depois foi ao ataque:


Como é bem visível o pessol não se fez rogado!...

... e, agora, vejam bem como é que se começa a gostar destas coisas:

De pequenino é que se torce o pepino, diz o povo... e eu acrescento: este Maljoguense já reclama o que lhe pertence... e honra lhe seja feita!